sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Navio Negreiro



Esta é uma das músicas de que mais gosto em "Pra cima, Brasil". Acredito que o autor se inspirou no poema homônimo de Castro Alves para criar esta bela canção, infelizmente, pouco ouvida no mundo "gospel", pois não fala de restituição, pisar na cabeça do diabo dentre outros modismos. A seguir, as letras da música e de um trecho do poema. Vale a pena!

Navio Negreiro
Letra e Música: Gladir Cabral

Cruzando o tempo, daqui se vê
Muito negreiro vendendo o que?
Traz escondido em seu mar querer
Áfricos, tráficos, vida e ser
Vagando as ondas, escuto a dor
Feito um lamento: “ai, meu Senhor!”
Onde a razão trata do furor
Canta vingança da clara cor

Por todo mar, liberdade!
Há muito tom, liberdade!
Cada lugar no oceano
Faz onda como desejar

Todo escravo é desejo afim
De espaço aberto, de além de si
Vive na esfera de ser feliz
Na volta à terra de seu país
Todo negreiro é navio mercê
De muitas ondas, de outro querer
Quem prende alguém a qualquer dever
Torna-se escravo até sem saber

Toda corrente é quimera só
De quem pretende guardar a nó
A força, a vida de um ser melhor
A força, a vida de um ser menor
Quem é mais livre, corrente ou pé?
Mordaça ou voz, sombra ou luz até
Eis o silêncio, a resposta é:
“Livre é quem vive de fé em fé”


O Navio Negreiro
Castro Alves

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...

(...)

II

Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.

(...)

By Marcia Moreira

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